Voz
Era assim: eu abria a boca, mas som algum saía. As palavras existiam apenas pelos movimentar dos lábios, mas seus belos sons e articulações e sentidos ambíguos sumiram. Era quase uma mímica. Era a música do silêncio.
Estava naquele cinema mudo não porque queria, mas porque estava, aconteceu. Errei de porta, errei o caminho.
Minha voz fugiu de mim na noite anterior. A danada foi com todo o cuidado: levou apenas o necessário, indo pé ante pé. Sumiu sem nem deixar recado. Quando acordei, estava só, abandonada, muda de sons, surda de silêncio, desesperada.
Andava na rua, pedia algo, buscava qualquer coisa para indicar meus pensamento e vontades, mas apenas a escrita era eficiente.
Quando saí da loja, vi o destino passar na minha frente: minha voz estava do outro lado da rua. Foi uma perseguição digna de Hollywood, mas que não foi documentado, exceto por palavras.
O mais importante é que eu recuperei a espertinha da voz. Esta, que é dona de aprontar, opinar, realizar e, que independentemente de qualquer coisa, deve sempre estar comigo.
O trabalho Voz de Graziela Mancini foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição - NãoComercial - SemDerivados 3.0 Brasil.
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