Memórias coloridas
Gosto muito das cores. Elas são simplesmente fantásticas. E quando, no ensino médio, tenho a total ciência de que são nos nossos primeiros anos de vida que temos sentidos, sensações e possibilidade de aprender a 1000 por hora, começo a pensar: como será que foram minhas primeiras memórias e sensações com a consciência das cores. Não consigo dizer, infelizmente (deve ter sido fantástico senti-las pela primeira vez, descobrir).
Certas palavras que eu acho que vira e mexe estão presentes não apenas nas coisas, mas em nós e em tudo: descobrir, identidade. Descobre-se que existe uma identidade, que outra descoberta é a identidade que irá de identificar. Identidade cultural, identidade de um, identidade de todos. Eu poderia ficar aqui horas brincando com a combinação das palavras (é quem não amaria fazer isso?), mas texto longo não convence, não compra e não instiga o leitor. A não ser que você esteja realmente a fim de ler algo como a brincadeira entre as palavras (que raramente será feita através de de uma tela de computador e afins, ou seja, este caso é mais fácil o leitor/nós lermos coisas extensas no formato de um livro ou de um produto impresso).
Mas, voltando ao que queria dizer por causa da identidade e da descoberta. Esses dias, olhando aqui e ali, pensando em sei lá o que, acabei me lembrando de um fato, ou melhor, discussão que tive com minhas amigas da 1ª série (possivelmente), voltando da escola. Elas amavam rosa, em todas as suas possíveis formas. Uma gostava de outra cor, além do rosa, mas naquele momento preferiu privilegiar o bendito rosa. Já eu, querendo mostrar que não era como elas, querendo mostrar que rosa era bom, mas nem tanto, passei a defender o azul ("Credo, coisa de garoto."). Ha, mas quem não gosta de ser contrário à maré? Bom, nem sempre, é claro, mas enfim! A discussão foi ficando cada vez mais fervorosa: "Amo tanto rosa que minha casa será rosa. Meu cabelo será rosa. Minha mochila é rosa. Minhas coisas todas são rosa." E eu ficando no azul. "Azul é lindo! O céu é azul, a água é azul, aquela casa é azul." Até que chegou o ápice "Queria que o mundo fosse só rosa!! Sim, ele seria muito mais bonito. Imagine: todo mundo rosa, o céu rosa, TUDO rosa!!!". Para não sair perdendo, falei o mesmo para o azul. Mas foi aí que percebi que, apesar de estar sendo maria-vai-com-as-outras, não concordava com ela ou mesmo comigo.
Sim: se tudo fosse só rosa ou só azul, eu poderia ficar enjoada da cor. Iria entrar em desespero, querer me descolorir, fazer de tudo para o mundo voltar a ser colorido. Só a ideia de o mundo ser monocromático já me enjoou. Foi aí que descobri o quão bom é ter um mundo multicolorido, como gosto das coisas, das pessoas, dos objetos, dos bichos e de tudo cada um com sua cor. Descobri o sentido de cada coisa ter sua própria cor e de tudo ser colorido, ao meu modo. Ao mesmo tempo, descobri minha maior e mais marcante característica até hoje, a minha identidade: estar sempre mudando de opinião, sendo volátil (ao modo do meu pai falar, já que ele sempre falava brincando "Você é muito volátil": de fato, sou!).
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