Tesoura, secador e chapinha

    Acordar cedo sempre me deixou exausta. E, também, sempre foi uma obrigação. Hoje, acordo cedo por opção (quem diria, não?). Isso não quer dizer que eu tenha me acostumado, que eu goste ou que não me deixe exausta, apenas significa que acordo cedo para poder aproveitar melhor o tempo. Mesmo que isso exija de mim um pouco a mais do que gostaria de ter que abrir mão.
   Mas, hoje não estou aqui para dizer como, por que, onde e quando durmo ou acordo. Hoje, vou contar a tragédia dramática (eita pleonasmo!!) da minha sexta-feira passada e a reviravolta do sábado passado.


   Estava mega animada com o tal corte de cabelo: queria deixá-lo um pouco mais curto. Como os preços andam exorbitantes e uma das melhores maneiras de se cortar o cabelo é comprar aqueles pacotes promocionais dos grupos de desconto, assim o fizemos: procuramos algo bom bonito e barato na internet e achamos a super promoção de "reconstrução capilar, corte, escova e alguma outra coisa que não me lembro" por R$ 50. Uffa!!! Achamos e compramos.




    - Ah, será maravilhoso!
    - Enfim cortaremos o cabelo.
    Mas mal sabiam, mãe e filha, que iriam passar por poucas e boas. Marcaram o dia do corte para uma sexta-feira, às 15hrs. Almoçaram, saíram de casa e foram rumo ao lugar que tanto tinham ficado animadas, tempos atrás, para ir.
   Ao chegar, uma placa anunciando algumas coisas que tinham ali: "Boxe, Pilates, Maquiagem Definitiva". Logo aí eu percebi que tinha alguma coisa fora do normal: como podem ter boxe e pilates (duas coisas super opostas e contraditórias de se ter no mesmo espaço) naquele terreno/prédio pequeno? Mas seguiram. Ao chegar a recepcionista (vou tentar não descrever as pessoas, questão de possível ética) perguntou o horário e, recebendo a resposta, pediu-nos para aguardar em pufes duros, sem encosto e logo à frente de uma janela aberta (ou seja, tínhamos companhia do vento congelante) e sem nenhuma revista por perto. Um lugar simplesmente pavoroso com conversas que Ai Ai Ai.
   "- Tem certeza que a gente está no lugar certo?"
   "- Será que somos obrigadas a usar o voucher?"
   Mudamos de sala, mas a qualidade do assunto não melhorou muito. Isso até um dos funcionários nos chamar para lavar o cabelo.


   Não sei como saí viva de lá: puxa o cabelo, espreme, joga de um lago, joga de outro, sova, torce... No mínimo saí de lá tonta, com a nuca dolorida e uns bons fios a menos (certeza que ele fez curso de tortura antes de trabalhar lá). Mas a pior parte não é essa: ele colocou um creme de tratamento no meu cabelo e eu teria que esperar uns 15 minutinhos e VOLTAR lá!!! E o papo?
   - Sua mãe é nova, né? Você é filha única? Ah, e você tem pai? Qual a cor dele?
   - Verde! Não, laranja. Quer dizer, azul. E ele tem 3 metros de altura, também!
   Ops, a minha fala não aconteceu! Mas tudo bem, voltemos a esperar na saleta de onde eu havia saído para o momento Psycho (semi-banho). E a conversa lá estava fervorosa.



   - Eu só como peixe, é claro. Mas jamais como peixe aqui, porque nunca se sabe: melhor comer na praia que lá eles estão sempre fazendo... Aliás, acho que peixe é a única coisa segura que se pode comer hoje em dia: eles não adicionam hormônio, sabe?
   Uffa: ao menos não teremos cenas de canibalismo por ali. Quer dizer, isso se ela souber que nós, seres humanos, temos hormônios...
   - E eu estou em dieta... Descobri que o melhor é nóis comer pão integral: é comer e você já emagrece.
 

   Yeah!!! Descobriram a "pílula que mata gordura" (li esta pérola no Facebook): pão integral!! Coma já o seu e esqueça a dieta!
    E, de repente, ouço meu nome sendo chamado por outro funcionário...


   - Hora de lavar o cabelo!
   Minha nossa, essa frase é a de um torturador!! Ok, respiro fundo e vou para a outra saleta lavar o cabelo.
   - Espera aí, querida, vou limpar esse tanque.
   Que, a propósito, estava transbordando em espuma. Vamos fazer uma relação meio simples: ali é um cabeleireiro, mais especificamente o tanque onde lavam-se os cabelos. Se o tanque estava cheio de espuma e a espuma, não importando a quantidade de água que jogava-se nela, não descia nunca, o que será que estava acontecendo? O cabelo estava entupindo a saída, é claro. O tal funcionário passou um século até fazer a conclusão.
   - Ah, era cabelo. Olha só!
   E fazia questão de colocar quase na minha cara. Mas logo o episódio passou. Pensei: fodeu! É agora que fico sem cabelo.
   Pois foi engano meu, quando ele estava começando a sovar minha cabeça para tirar o tal produto de tratamento, um outro funcionário chegou com o celular na mão.
   - É para você.


   Disse pondo o celular no ouvido daquele que estava enxaguando meu cabelo. Logo, assim que começou, ele trouxe a água até um ponto X da minha cabeça, do lado esquerdo, e ficou ali até terminar de falar ao telefone.
   - Oi, Fulana. Tudo e você? Não, não posso comprar mais nada: estou endividada ainda por causa daquela compra que fiz na Marisa. É. Linda, não dá. E eu estou lavando o cabelo duma cliente, agora. Depois eu te ligo.
   Até que enfim, vai se concentrar só no meu cabelo.... Ou melhor:
   - Como? Sério? É só passar o CPF? Certeza? Me explica melhor.... (TIC TAC TIC TAC) Ah, tá. Então anota aí: 123... 456... Não, é 123! UM DOIS TRÊS... Isso. 456. SEIS. Não, o começo é 123, aí vem 456. Isso. 789. SETE. SETE. 7. Isso. 10. 123.456.789-10. Não: 123.UM DOIS TRÊS. Isso. Então tá. RG? Ai, eu não lembro agora de cabeça, depois te passo por mensagem.
   Acho bom mesmo, concentre-se no meu cabelo agora, porque de tanto que você ficou só de um lado... Acho até que meu cabelo desse lado está derretendo!
   - O que? Babado?


   - Vai, pergunta o que foi!
   NÃO!! Não incentiva, manda desligar, manda desligar ou eu jogo esse celular no chão e piso várias vezes até... AHHHH.
   - Não acredito: voltou com o Jorge? Mas como? Eles não tinham brigado sério? Ai, peraí, eu estou lavando o cabelo duma cliente, depois te ligo e aí você me conta. Beijão fofa.
   Uffa, até que enfim. Aí ele mudou a água de lá pra cá, ficou dois segundos e... Espera aí: volta!!! De um lado você quase derreteu meu cabelo e do outro está quase sobrando produto. Ai, ok, desisto.
   - Agora você senta ali e espera só um minutinho que já vão te atender.
   Não sei não: estou com medo de ser atendida. Pode deixar que eu mesma dou conta do recado. Pena que não disse isso. A partir deste momento, até o fim do corte do meu cabelo (de fato) fiquei me imaginando um milhão de vezes: eu pegava a tesoura, cortava super o meu cabelo, secava o cabelo e saía para nunca mais voltar.
   - Pode sentar aqui, amor. E então? O que vai ser?
   - Bom, eu vou querer tirar uns 2 dedos, mas quero manter o corte.
   - Hummm. Ah, não sei não: sei cabelo já está tão curtinho. Não quero cortar não!
   OOOOI?? E quem disse que você tem que querer cortar o MEU cabelo? Eu é que tenho que querer e você simplesmente tem que fazer, oras!



   - E se a gente fizesse um corte mais ou menos assim, e uma franja assado e um repicado com o cabelo virado para fora?
   - Quero que você Mantenha o corte.
   - Hummm E vou repicar aqui e virar para fora.
   - Não, eu gosto do meu cabelo virado para dentro.
   - Mas aí não tem sentido repicar.
   - Eu quero manter o corte com o meu cabelo virado para dentro!!!
   - Vamos cortar.
   - Mantendo o corte, ok?
   E ela foi cortando, e afastou o espelho e aquilo foi me dando uma agonia. Agora sim, estava ferrada: ela iria fazer um ninho de rato! No fim, ela terminou de cortar, pegou o secador e começou. Enquanto isso, minha mãe já estava indo para a recepção: cabelo lindo, cortado e secado.



   - Gostou FILHA?
    Achei estranho, mas pensei: ok, vai ver que ele me chamou assim porque sou, de fato, filha da minha mãe.
   - Gostei, gostei!
   Mas a tal funcionária tinha que complementar falando:
   - Ela é MINHA filha, não sua. Sou eu quem está cortando o cabelo dela.
   O que? Eu sou filha é da minha mãe. Para tudo!! Você: mãos ao alto! Passa a tesoura e o secador e mantenha distância de mim.
   Mas não falei nada disso, é claro. Vai que por conta de um A ela resolve cortar 3 ninhos de rato na minha cabeça. Melhor ficar no seu canto e tentar arrumar o mal feito depois.



   E eis que a última tortura chega: a chapinha! Nunca gostei dessa porcaria: resseca o cabelo, alisa muito mal alisado e eu adoro meu cabelo ao natural. Pois neste dia, eu descobri que a chapinha pode fazer estragos muito maiores: fingir um enrolado horrível e, com a ajuda de um outro produto que mais parecia cola, pode fazer com que grude o efeito não liso, não definido.
   Ela termina de fazer os estragos e arrasta o espelho de volta para que eu possa me ver. O resultado? Ela mal cortou 2 fios de cabelo, fez uma franja esquisita... Desastre total.



   Na sexta-feira aprendi que tenho que aprender a ser histérica feito as outras mulheres por coisas contrárias ao que eu fico: ame a chapinha, chore e fique deprimida se cortam para mais o seu cabelo, dê um beijo no cabeleireiro se ele pouco cortar seu cabelo. Só que não (gracias!).
   Algumas resoluções e decisões: tenho que aprender a cortar meu próprio cabelo (se quer algo bem feito, faça você mesmo), nunca mais comprar coisas promocionais dos grupos de desconto (especialmente se for relacionado ao cabelo: sempre saio frustrada por não terem cortado meu cabelo e com aquela cara que eu estava dois minutos antes... Mesmice não dá!). Acho que só isso está bom.
   Na mesma noite, fiz um coque bem feito e preso para não soltar. Passei a noite na faculdade desse jeito.
   No dia seguinte (sábado), com a mega ajuda da minha mãe, cortei o cabelo do jeito que eu queria: de um cabelo médio para um chanel. Agora sim: estou feliz!
   Uffa! rsrs




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