Anominada: da casa ao lado
Como é que posso nomear as coisas? Como ter tanta responsabilidade para nomear tudo? Como nomear o que sinto e o que faço? Como nomear o que sou ou o que eles são?
Sou e estou sempre indecisa quanto a mil e uma coisas. Nunca sei como descrever o exato termo para isso ou aquilo. Apenas é. Apenas sou.
Tinha essa vizinha minha. Poderia chamá-la de louca, mulher de alucinações mil, mulher perdida e centrada em sua loucura. Poderia afirmar, com convicção, que era doente: esquizofrenia, talvez. Poderia, sim, se não fosse a sua razão em tantas coisas que dizia.
Às vezes, à noite, ela gritava, batia e quebrava várias coisas de sua casa. Revoltava-se e sofria dentro daquelas paredes, da casa vazia de pessoas e cheias de tantas intangências.
Certa vez, transtornada, jogou seus livros pela janela: Aqui está a sua sociedade. Tomem, peguem! Não quero mais vê-la. Sai! E o mais engraçado de tudo era que os pedestres não tentavam desviar dos livros lançados: todos disputavam pegar aquelas páginas, aqueles pedaços de sociedade. Era uma chuva de palavras.
Outros dias, ela saía de casa, para mudar de ares, possivelmente. E quando fazia isso, falava baixo para si; girava, pulava e conversava.
Você, você é verde. Não tem mais nada: nasceu assim. Vai viver para sempre preso à terra. Mas você... Tenho certeza: é azul! Sim, você é azul. Por que está aqui? Você sabe, né? Só não voa porque não quer. Tem asas, mas não voa.
Outros dias, entrava em crise: achava que era de outro planeta. O que estou fazendo aqui? Merda!! Vou voltar pro meu planeta e vocês que se explodam. Vou embora!!!
Mas era uma pessoa sincera. Ela conhecia muito, mas ficou presa, em si. Nos dizia cada coisa, cada maluquice... Mas toda vez que eu parava para pensar no que ela dizia, eu via que tinha algum sentido, se não todo o sentido do mundo. Ela sabia. Será que era louca? Será que era inteligente demais? Será que solitária de menos? Não sei descrever ao certo. Mas era. Era.
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