Discussão pós-moderna do relacionamento



"Então por que está comigo?"
A primeira vez que ouvi esta pergunta, ela estava um pouco diferente e vinha não de uma pessoa externa a mim, mas de uma pessoa interna em mim. E me vendo triste, machucada, cansada e não aceitando tantas vírgulas que ela perguntou "Mas que raios você estava pensando quando decidiu ficar com ele?". Sim, mas que raios e trovões passaram pela minha cabeça? Eu queria que o homem com quem eu fosse ter uma relação fosse do jeito XYZ, e ele era ABC. O que me fez aceitar tudo o que tenho aceitado? O que me fez querer e sentir coisas por você? Foi o medo de ficar sozinha? Foi a vontade extrema de ter alguém? Foi um desejo incontrolável de gostar de alguém? E por que você? Vai entender esta minha cabeça estranha.
Ela pensava, no início, "tenho que passar por isso". Ela começou a pensar no meio, "quero passar por isso". E agora, no fim, ela pensa "mas o que foi que te deu para passar por isso?". Sim, o que deu em mim?
Apenas porque declarou-se, não queria dizer que eu precisava estar com você. Apenas porque me deu amor, eu não tinha que amá-lo desta forma incontrolável.
"Mas pare de me enrolar: por que está comigo?". Calma! Estou pensando. Você quer exigir que eu te responda uma coisa complexa dessas só no ímpeto da fala de uma coisa que lhe diria sem nem pensar? Mas eu quero pensar!
Se a gente pensa, a cabeça dói, cansa, morre num canto. Por outro lado, se não pensamos, morremos de tédio, de ignorância, de ócio sem significado. E apesar de pensar um milhão de coisas ao mesmo tempo, de vez em quando, e às vezes, talvez, me perdendo, eu ainda consigo voltar a questão e concluir algo. Só preciso de tempo.



"Por favor, fale alguma coisa!". Você me suplicando desde modo me deixa até agoniada. Parece desfazer-se cada minuto que fico olhando para você e desviando o olhar e olhando novamente enquanto penso com uma cara de interrogação eterna.
Devo confessar que venho pensando exatamente sobre isso há tempos: olho para você deitado, sentado, de pé, comendo, dormindo, tomando banho, mexendo no computador, conversando, abraçando... E tudo que consigo concluir é que não sei.
Não sei, oras! Por que estou com você? Talvez por que te amo. Por que te amo? Porque mesmo tudo que há em você que, ao meu ver, é ruim e mal, ainda tem todo um lado bom, belo. Tudo bem, eu sei: eu tenho essa mania de aumentar as coisas e, muitas vezes, até ignorar o seu lado ruim. Tenho que começar a lidar com isso, mas o fato é que acho que mudei o foco das coisas de novo.
"Por que... está comigo?". Não sei, carambolas olas oras! E você? Então vai lá, me responda você por que está comigo... Vai dizer que é porque me ama. O que ama em mim? Vai dizer que é tudo que existe em mim. Por que me ama? Acho que hoje você está com aquele jeitinho de quem vai me dizer que é porque sou legal.



"Quero relacionamento aberto. Minha moral me pede". Oras, vá dormir pra ver se sara. Uma hora só poligamia serve, na outra, se não houvesse a monogamia o mundo estaria perdido. Muda da água para o vinho e tenho que aceitar. Muda do dia para a noite e tenho que seguir suas loucuras. Já basta que sou obrigada a seguir minhas próprias loucuras: não dou conta de seguir mais a loucura alheia que não se assemelha à minha. Ou talvez eu que esteja sendo a louca maluca de tudo de não perceber que, na verdade, terei um milhão de benefícios nessa história toda e que posso ser o ponto ativo de todo o enredo e ser feliz. Mas espera aí, como é que será que eu quero ser feliz? Como é que eu serei feliz de fato? Será que no relacionamento aberto eu serei mais feliz que no fechado? Ou será que felicidade mesmo eu só terei solteira?
"E você, quer abrir o relacionamento?". Mas que caramba, hein? Não vê que estou pensando? Não é tão simples assim: é uma puta equação que eu tenho que montar e resolver na minha cabeça. Às vezes quero simplesmente dizer: faça o que bem entender que não dou a mínima. Outras vezes fico enervada ao extremo só de saber que quer dar um rolê por aí com alguns amigos. Pelo jeito não tem muita solução: sou temperamental e estourada por natureza, ao mesmo tempo que sou carinhosa e compreensiva. Não faço ideia do que é maior que o que, mas o fato é que sou. Deve ser pelo fato de eu ser de peixes com ascendente em escorpião. É isso mesmo: sonhadora que pela realidade vira temperamental. Faz sentido, não?
"Por que está comigo? O que quer desse relacionamento? O que quer de mim?". Meu, estou ficando nervosa já: você me faz uma pergunta tensa e eu tento pensar numa resposta. Aí você muda de pergunta, e eu tento pensar numa resposta. Aí você me manda um combo de 3 perguntas e a bonequinha aqui tem que pensar nas 3 de uma só vez e responder? Ah, vá caçar sapo com bodoque! Estou em greve: não vou pensar mais. Me recuso. Me abstenho de ter opiniões e de decidir algo.



"Por que não fala nada? Você sabe o quão apreensivo eu fico quando você faz isso? Parece até que está me ignorando ou que não está entendendo. Eu falo alguma coisa e você fica em silêncio: nunca sei o que está se passando nessa sua cabeça!". Vou te contar um segredo: eu também não sei. Eu sei enquanto estou pensando na hora, mas depois eu já me perco de novo e não sei o que estava pensando. Enfim, essa confusão toda aí.
"Vai continuar em silêncio? Vai continuar me ignorando?". Putz, mas eu não me decidi por nada ainda! Ahhhhh, eu ainda estou pensando...
Quer saber? Tudo bem então: outra hora eu termino de pensar e aí a gente conversa melhor sobre isso. Por enquanto vou te falar a única coisa que eu sei e que, mesmo com tudo, seu bobo, eu ainda sinto por você:
- Ei: eu te amo!


Comentários

Postagens mais visitadas