Repassando
Depois que meus músculos se contraíram, depois que minhas costas descobriram a tensão, depois que meus braços ergueram estas paredes, depois que minhas pernas percorreram o seu caminho, depois do meu coração sentir amor, depois que meu cérebro pensou em dor, depois de meus pés se machucarem, depois dos meus dedos se cortarem, depois dos nossos olhares se trocarem, depois que minha boca se calou, depois que o ar ao meu pulmão pesou, depois que meu nariz espirrou, depois que o dia passou. Depois. Foi realmente depois.
Mas antes, antes eu corri, eu sentei, eu andei, eu deitei,eu comi, eu expeli, eu tentei, eu cansei, eu xinguei, só pensei, eu mergulhei, eu olhei, eu viajei, eu morei, eu fui. Fui sim, e como fui. E apesar de tudo, acabei assim, como todo mundo, meio corpo parado meio corpo em movimento, sendo apresentado a tantos outros.
Dependurado nesta vitrine, fincado por tantos anzóis, conquistado pela qualidade da isca, comerciado pela maciez da fibra que, outrora voraz e hoje quietinha, enfim continha. Despedidas chorosas que meu sangue escorrido não deixa embalar, que minha cor viçosa não permite esconder, que minha textura delicada não consegue conter o desejo que minha pele atiça. Vitrine, tenho vergonha. Vitrine, me esconda. Amigo, me coma. Companheiro me corte e embale. Faça de mim o prato principal, o filé mignon do seu jantar. E que eu faça parte de uma refeição inesquecível, que alguém se lembre que eu deitara em seu prato e alimentara seu corpo e mudara de profissão: atualmente modelo, amanhã alimento, depois... Bom, depois outro.
Outro. Depois que cresci, depois que raízes criei, depois que frutos lhe dei, depois que com sombra te presenteei, depois que da chama me embebedei, depois que de mim flores recebeu, depois que te apoiei e refugiei, depois que seguei, depois.
Depois?
Antes açougue, depois floresta, antes prato, depois praça, antes você, depois papel.
Antes do agora, antes. Antes do depois, agora. Depois de agora, depois. Antes do depois e depois de antes, agora. Tudo isso junto, história.
Mas antes, antes eu corri, eu sentei, eu andei, eu deitei,eu comi, eu expeli, eu tentei, eu cansei, eu xinguei, só pensei, eu mergulhei, eu olhei, eu viajei, eu morei, eu fui. Fui sim, e como fui. E apesar de tudo, acabei assim, como todo mundo, meio corpo parado meio corpo em movimento, sendo apresentado a tantos outros.
Dependurado nesta vitrine, fincado por tantos anzóis, conquistado pela qualidade da isca, comerciado pela maciez da fibra que, outrora voraz e hoje quietinha, enfim continha. Despedidas chorosas que meu sangue escorrido não deixa embalar, que minha cor viçosa não permite esconder, que minha textura delicada não consegue conter o desejo que minha pele atiça. Vitrine, tenho vergonha. Vitrine, me esconda. Amigo, me coma. Companheiro me corte e embale. Faça de mim o prato principal, o filé mignon do seu jantar. E que eu faça parte de uma refeição inesquecível, que alguém se lembre que eu deitara em seu prato e alimentara seu corpo e mudara de profissão: atualmente modelo, amanhã alimento, depois... Bom, depois outro.
Outro. Depois que cresci, depois que raízes criei, depois que frutos lhe dei, depois que com sombra te presenteei, depois que da chama me embebedei, depois que de mim flores recebeu, depois que te apoiei e refugiei, depois que seguei, depois.
Depois?
Antes açougue, depois floresta, antes prato, depois praça, antes você, depois papel.
Antes do agora, antes. Antes do depois, agora. Depois de agora, depois. Antes do depois e depois de antes, agora. Tudo isso junto, história.
Comentários