Fita de cinema - Mulheres do século 20

   Feriadão à vista, tempo de sobra pra sair, dançar, comer, beber, cansar, sentar no safá e escolher algum filme pra assistir... Tá querendo uma dica, uma inspiração, uma luz no fim do túnel? Pode ficar tranquila (o), preparar a pipoca e já selecionar este filme pra abrir a seção cinema. E não esqueça o guaraná no frizzer!! 😉


   Esta moça simpática logo ali em cima é Dorothea, com todo o seu estilo, resiliência e sociabilidade. Mas antes de falar o nome de uma das personagens eu deveria ao menos dizer o nome do filme, né? Pois então, que rufem os tambores....


   Mulheres do século 20, um filme denso e cheio personalidade. Bom, mas deixa eu primeiro te situar na época em que ele se passa: estamos em 1979, um ano fervendo de novidades e mudanças e crises e revoluções.
   Dando uma pincelada relativamente rápida: politicamente o Brasil vivia a ditadura militar, enquanto os EUA passavam pela renúncia do então presidente Richard Nixon, Portugal estava num processo de adaptação com uma nova constituição (em vigor desde 1976) num momento pós regime ditatorial, várias colônias portuguesas tinham proclamado sua independência (demorou, mas conseguiram: Angola, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Moçambique e Guiné-Bissau)... Aliás, se for falar no que tava rolando na África, a gente fica até surpreso pela proximidade com os tempos de hoje: Angola e Moçambique sofriam com as guerras civis (que só tiveram fim, respectivamente, em 2002 e em 1992), Rodésia só conquistou a independência no ano seguinte ao retratado no filme (ou seja, em 1980) e o apartheid, infelizmente, estava super em vigor na África do Sul (o que só teria fim em 1994, pasmem!). E mesmo que a corrida especial e armamentista estivessem desacelerando e dando espaço pra questões humanitárias, a Guerra Fria ainda estava rolando (só foi ter fim em 1991, com a queda da União Soviética) e a Guerra do Vietnã tinha acabado de acabar (que aconteceu em 1975), então o país ainda estava se reerguendo e se reestruturando.
   Uffa, quanta coisa, né? É claro que esse contexto maluco ajudou no surgimento do punk (relaxa porque não estou me esquecendo que também foi a era dourada da Disco Music com Donna Summer e do reconhecimento do DJ como um dos principais ingredientes para fazer uma discoteca lotar e a pista não parar de dançar, que tava rolando uma mistureba de jazz e rock e soul lançando estrelas como Carole King - que eu inclusive comentei neste post aqui -, Steve Wonder e etc pro sucesso mundial, tá? haha) e sua cultura de autonomia (o famoso faça-você-mesmo), muito niilismo e a subversão da cultura vigente.

   Bom, feita essa ligação gigantesca com a época, bora voltar pro filme em si, né?


   Muito bem, lembra da Dorothea? Pois é, ela tem um filho chamado Jamie, que está passando por aquela frase de transição, sofrendo com a puberdade, enfrentando a adolescência.
   Eles dois moram numa casa relativamente grande, onde dois dos quartos excedentes foram alugados, um para Abbie e outro para William. E no meio de toda essa galera, a casa ainda é visitada por Julie, amiga e amor platônico de Jamie.


   Mas afinal, qual é a relação que se constrói entre esses cinco personagens e o que isso tudo tem a ver com aquela contextualização gigante em torno do ano de 1979?
   Bom, antes de qualquer coisa eu vou te contar uma coisa que vai tornar tudo muito mais interessante: cada uma dessas mulheres presentes no longa nasceu e se criou em uma fase muito específica da história da humanidade e, em específico, dos EUA, trazendo uma variedade muito grande de ideologias, opiniões, desejos e estilos de vida. Dorothea nasceu em 1920 (lembra daquela crise que rolou em 1929 nos EUA? Então, ela passou por isso), Abbie nasceu em 1950 (TV estava começando a se difundir pelo mundo e o cinema estava tomando proporções e importância maiores a cada produção) e Julie nasceu em 1960 (revoluções de todo nível pipocando em todos os cantos, movimentos sociais ganhando força a exemplo do feminismo, enfim, tá rolando a contracultura de uma forma quase explosiva).
   Já dá até pra prever situações com um nível mínimo de confusão entre essas moças, não é mesmo? Pois imagina esse trio parada dura vivendo no fim da década de 70 com aquela loucura de fatos, que eu listei pra você, acontecendo. Pois é, só pode dar num filme Cult e com um roteiro extremamente bem desenvolvido.


   Mas a confusão que vai guiar e mediar essas três moças cheias de personalidade é o próprio Jamie (apesar de tudo, posso dizer que estamos em relativas boas mãos haha). O fato é que Dorothea não estava pronta para conseguir lidar com a explosão adolescente do filho, e acaba vendo nas supostas amigas Abbie e Julie uma chance de dar ao filho o ombro amigo de que precisaria e os conselhos para tirar o melhor proveito da fase, já que o rapaz não se abria mais com a mãe.
   E por meio de uma direção de arte lotada de cores vivas, detalhes ricos nos figurinos dos personagens e uma trilha sonora que enriquece ainda mais essas figuras, passamos a viajar sobre os conceitos, mudanças e problemas daquela época dos EUA de dentro da cozinha/sala/quarto da casa de Dorothea. Com falas extremamente carregadas de sentido político e ideológico e emocional vindo de cada uma dessas pessoas, é possível identificar essas personas não apenas em nós mesmos, mas também no dia-a-dia do nosso tão avançado século 21.


   Sinto que o filme consegue ultrapassar essa barreira temporal e nos conectar, de alguma forma, com o que está acontecendo hoje em dia, salvo as devidas proporções, nas universidades, nas famílias e nos grupos que hoje atuam na sociedade.
   Confesso que sou meio suspeita, já que gosto muito de filmes nos quais o roteiro consegue nos colocar na rotina dos personagens por meio de seus diálogos, diálogos estes que quase se tornam um debate interno entre os personagens e nós mesmos, passando por todos os extremos e buscando o caminho que seria o mais certo pra gente seguir, quase que uma questão existencial de fato.


   E a trilha sonora é simplesmente incrível, é como se eu pegasse um daqueles toca fitas antigos (tipo aqueles amarelinhos, sabe?) e botasse uma mixtape antigona e saísse por aí questionando a vida e seu contexto enquanto aproveito pra aproveitar uns raros momentos pra relaxar e me divertir. E para você que não sabe que toca fitas é esse que eu falei, dá uma olhada nessa raridade:



   Confessa vai: é bem fofinho, né? Enfim, pulando de curiosidade pra de volta pro filme, se liga numa seleção breve que eu fiz das melhores músicas:








   Acabei me empolgando um pouco, mas seguindo: o filme é simplesmente sensacional!
   No meio do post eu tipo comentei a sinopse do filme, mas como de costume, vou aqui colocar a versão do Adoro Cinema:

   "Na Califórnia dos anos 70, uma mãe (Annette Bening) tenta cuidar de sua família da melhor forma possível enquanto também procura respostas para as vidas de suas duas jovens amigas - uma fotógrafa aficcionada pela cultura punk (Greta Gerwig), e uma amiga de seu filho (Elle Fanning)."


   E acho que só tá faltando agora apresentar o trailer para você ver com seus próprios olhos a magia deste filme em contar sobre uma época que é a mistureba de tantas outras:



   Bom, espero que você tenha gostado dessa dica Cult pro seu feriadão!! E até a próxima seção com muita pipoca e guaraná! 😊


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