A cultura que habita em nós - Parte 1

   Quando foi a última vez que você esteve em contato com o mundo da mídia física? Quando foi a última vez que você jogou um jogo de tabuleiro ou invés de ligar o Xbox? Quando foi a última vez que abriu um caderno para escrever algo ao invés de criar uma anotação no seu celular ou gravar aquela palestra/aula? Quando foi a última vez que você foi ao cinema ao invés de assistir algum filme pela Netflix? Quando foi a última vez que você pegou um CD, fita cassete ou um disco de vinil ao invés de play pelo Spotify? Quando foi a última vez que você foi à uma banca e comprou um jornal ao invés de ler as notícias pelo tablet? Quando foi a última vez que você foi à uma livraria e comprou um livro físico enão para o Kindle? Quando foi a última vez que você comprou um bilhete físico pra usar na linha da CPTM ou do Metrô?



   Quando foi a última vez que você esteve em contato com mundo físico, além do virtual? Aliás, você sabe como viver num mundo sem tantas facilidades tecnológicas?


   Parecem perguntas um tanto quanto clichés, retóricas e até agressivas, em certo ponto, mas se a gente for parar pra pensar como tudo avançou numa velocidade absurda a relação entre as coisas passa a ser um tanto quanto sinistra, observando do ponto de visto da cronologia dos fatos. Por exemplo, foi em 2004 que aquele famoso celular de flip da Motorola, o V3, foi lançado. Foi em 2007 que a Apple lançou seu primeiro smartphone touch screen já com o design que conhecemos dos atuais celulares (só que bem menos tecnológico haha). Imaginem só que o Galaxy da Samsung foi lançado só em 2011 e o fato de ter uma câmera 8 MP e GPS embutido era um diferencial e tanto!! E isso porque estamos apenas comentando sobre os celulares, se formos abranger o papo pra computadores, rádios, carros e outros dispositivos ficaríamos chocados como, apesar de tudo, faz pouco tempo que as coisas existem da forma como o são atualmente.

   Tá, mas o que isso tem a ver com as perguntas do primeiro parágrafo, você deve estar se questionando... Seria isso um saudosismo de pegar aqueles guias físicos e se perder em mapas que nem sempre estavam atualizados? Seria isso o saudosismo das câmeras com fitas? Seria isso o Saudosismo do MP3 e MP4? É saudosismo?

   Neste caso, não! É claro que a nostalgia impera de vez em quando, mas neste post eu quero falar sobre uma coisa ainda mais importante do que a melancolia dos tempos que nunca mais voltarão ou dos costumes que, por falta de opção e possibilidade de mudança por questões tecnológicas, tínhamos em anos não muito distantes... Hoje eu quero falar sobre as experiências que estamos deixando de ter e os hábitos antissociais que podemos estar aderindo e uma gigantesca parte do mercado que está em crise em virtude disso (não é o único motivo, mas é um dos principais).


   Para quem vem acompanhando as notícias das livrarias, por exemplo, sabe que a história da fusão entre as empresas, fechamento de filiais e a grande dívida advinda de todo um processo de sobrevivência à crise e à modernização dos costumes urbanos são apenas a ponta do iceberg do que tá rolando e do que está por vir.
   Tipo, a Fnac: fechou suas lojas em São Paulo em setembro do ano passado (clique aqui para conferir a reportagem da Globo) e tirou o site do ar em Outubro do ano passado (clique aqui para conferir a reportagem da Globo; aqui para conferir a reportagem do Tecnoblog e aqui para conferir a reportagem do Canal Tech).


   Isso porque ainda não falamos do super problema financeiro que a Saraiva e a Livraria Cultura estão passando. Só no ano passado, em outubro, a Saraiva anunciou o fechamento de 20 das 104 lojas que possuía e a Livraria Cultura entrou com pedido de recuperação judicial (clique aqui para conferir a reportagem da InfoMoney e aqui para conferir a reportagem da ISTOÉ). Ah, e detalhe, um mês após a Livraria Cultural ter entrado com pedido de recuperação judicial foi a vez da Saraiva fazer o mesmo (clique aqui para conferir a reportagem da Exame; aqui para conferir a reportagem da Tecnoblog; aqui para conferir o podcast da Publish News).


   Apesar de, nestes casos, fatores políticos e econômicos e referentes à gestão de ambas as grandes redes terem uma grande participação nos resultados que temos acompanhado (como você pode conferir clicando aqui para ler a reportagem da ISTOÉ Dinheiro e aqui para ler a reportagem da Folha), podemos também entender que outro tanto da parcela de contribuição do problema vem do tipo de mercado que empresas que lidam com a área da cultura têm que lidar: comparado com outros países (inclusive da América Latina), é possível percebe, por exemplo, que a população brasileira não é lá composta por leitores e leitoras tão assíduos. Mas perceba: isso não é só a falta de boa vontade em pegar um livro para ler de cabo a rabo!!


   Segundo algumas pesquisas, existem alguns fatores que impedem a população de adquirir o hábito da leitura tais como: o analfabetismo (siim, ainda existem 11,5 milhões de pessoas no Brasil que não sabem nem ler e nem escrever!! Vejam maiores detalhes aqui nesta reportagem da Agência de Notícias do IBGE), a desigualdade social (algumas coisas ainda não mudaram, mesmo com o passar do tempo: 889 mil é o número de pessoas que integram o grupo de 1% que ganha cerca de R$27 mil por mês e 44,4 milhões é o número de pessoas que integram o grupo de 50% que ganham cerca de R$747 por mês, o que é inferior a um salário mínimo. Confira essas informações aqui na reportagem da de O Globo, aqui na reportagem da EBC - Agência Brasil, aqui na reportagem do Nexo Jornal e aqui pelas estatísticas do IBGE), falta de tempo, falta de hábito, além de questões como os costumes e a estrutura familiar em relação ao consumo de cultura e metodologia de ensino das escolas e o acesso das mesmas a um valor justo dentro do orçamento público/privado para aumentar ainda mais o incentivo a leitura.


   E tudo isso nos leva a ter um resultado um pouco mais assustador do que as informações gerais que eu comentei no parágrafo anterior: 30% da população brasileira nunca comprou um livro!! E citando o trecho desta reportagem do Estadão (clique aqui para conferir a mesma na íntegra):

   "Se em 2011 eles representavam 50% da população, em 2015 eles são 56%. Mas ainda é pouco. O índice de leitura, apesar de ligeira melhora, indica que o brasileiro lê apenas 4,96 livros por ano – desses, 0,94 são indicados pela escola e 2,88 lidos por vontade própria. Do total de livros lidos, 2,43 foram terminados e 2,53 lidos em partes. A média anterior era de 4 livros lidos por ano. "



   Uffa, que cenário, não? Você pode conferir estas informações também clicando aqui na reportagem do Portal T5, aqui na reportagem da ABDR, aqui na reportagem do Instituto Guimarães, aqui pela reportagem da Exame, aqui pela reportagem da Globo, aqui pela EBC - Agência Brasil e aqui pela própria pesquisa do Instituto Pró-Livro.



   Tá, aposto que a esta altura você deve estar pensando que eu já mostrei umas notícias tensas, uns dados cruéis e uma situação meio complicada... E aí, qual é a deste post, enfim? Desculpa a maldade, mas isso você vai conferir no próximo post!! Mas ficar por perto que logo logo já publico a continuação!!


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