Fita de Cinema - Border

   Existem filmes com os quais nos identificamos e nos apaixonamos loucamente no decorrer do enredo; existem filmes que simplesmente se tornam intragáveis logo nas primeiras cenas e que o restante transforma-se num tipo de tortura particular ao espectador; existem, também os filmes insossos e que conseguem a proeza de não fazerem diferença alguma na vida daqueles que os assistem; existem os filmes que nos enganam parecendo serem insossos ou mesmo odiáveis e se transformam, ao primeiro clímax possível, um interessante e/ou instigante produto cinematográfico; e existem aqueles filmes que são esquisitos do começo ao fim, indecifráveis em sua estranheza, trazendo simultâneo incômodo e curiosidade, permanecendo em nossos pensamentos por um longo período buscando respostas plausíveis e lógicas para aquilo que presenciamos no filme e sem chegar a conseguir definir se é um filme bom ou ruim, apenas permanecendo no limbo da esquisitice. Esta última opção é uma prévia do que vos espera em Border.





   O filme sueco é uma das coisas definitivamente mais estranhas que você vai presenciar e, possivelmente, gostar neste ano até o momento. O mais engraçado é que eu só acabei assistindo-o no cinema por ter lido rapidamente a sinopse e ter achado tão interessante que nem pensei em conferir o trailer pra ver se seria algo que eu iria realmente curtir assistir. Dica: não faça pipoca para comer enquanto o assiste...
   Quando o filme começa já somos expostos a estranheza na forma como Tina lida com suas suspeitas e investigações sobre qualquer tipo de infração que os passageiros possam estar cometendo, assim que passam pelo corredor de desembarque do aeroporto onde ela trabalha: seu olhar meio medroso, meio envergonhado, dá as vezes ao seu nariz que fareja (seriam os ferormônios?) daqueles que tentam esconder seu sentimentos sombrios.





   Eis que, no meio do caminho, (depois que aceitamos sua estranha rotina sensorial de extrema intimida com a natureza e uma desconcertante sensação de ameaça mantida nas relações sociais) parece que nosso caminho cruza com outro tipo diferente tal como Tina o é, mas um diferente que consegue ser ainda maior do que o que conhecemos com Tina: e assim surge, na trama, Vore. Como Tina, é possível farejar do lado de cá da tela que "algo errado não está certo" com esta figura que parece apresentar um quadro meio maníaco em relação às coisas que o cercam e talvez ainda pareça existir certa obsessão com Tina, como se ele soubesse algo sobre ela que nem mesmo ela saberia.





   Em certo ponto abrimos mão da desconfiança por não haverem provas ou motivos concretos de que Vore estaria tramando algo e, com certo receio, nos permitirmos sermos curiosos juntos com Tina. Inclusive a vida dela, antes de Vore, era tão pacata e oprimida por todos ao seu redor (parecia ser uma sucessão de submissões ao que o irmão e a cunhada pensam, ao que o namorado quer e faz, ao que os colegas de trabalho esperam dela) que sentir curiosidade pelas ressignificações que Vore traz e faz na relação entre Tina e a natureza ou mesmo sua origem é algo extremamente óbvio. E enquanto ela vai se descobrindo em experiências e teorias que começam a validar suas crenças e hipóteses do mundo, vamos descobrindo que ela não é o que foi ensinada a ser e que, muito provavelmente, nunca gostou de ser. Ao mesmo tempo descobrimos que nossas suspeitas quanto a Vore eram mais do que instinto: eram realidades!





   O filme inteiro apresenta uma nova forma de experimentar e de viver que segue tangendo entre o preconceito, o medo, a vergonha, a excitação e a libertação. Ao mesmo tempo em que vamos desvendando os mistérios do corpo de Tina, descobrimos o corpo e os costumes de Vore, ao mesmo tempo em que vamos descobrindo curiosidades para expandir percebemos que temos limites viscerais intransponíveis.





   Além de um roteiro espetacular e inusitado, ainda somos brindados com uma atuação, uma produção e uma trilha sonora meticulosamente estruturadas! Aliás, o realismo do filme é simplesmente chocante! Só para você ter uma noção, abaixo é possível reparar o grandioso trabalho feito na transformação física dos atores para que pudessem incorporar os (desculpa o spoiler) trolls que vivem em sociedades humanas:






   E nada melhor do que o relato da própria Eva Melander para contar sua experiência durante o processo criativo de incorporação da personagem:







   E como de praxe, bora conferir a sinopse feita pelo Adoro Cinema:

"Tina (Eva Melander) é uma policial que trabalha no aeroporto fiscalizando bagagens e passageiros. Depois de ser atingida por um raio na infância, ela desenvolveu uma espécie de sexto sentido, fazendo com que seja capaz de “ler as pessoas” apenas pelo o olhar. Isso sempre representou uma vantagem na sua profissão, mas tudo muda quando ela identifica um criminoso em potencial e não consegue achar provas para justificar sua intuição. Após o episódio, ela passa a questionar seu dom, ao mesmo tempo em que fica obcecada em descobrir qual o verdadeiro segredo de Vore (Eero Milonoff), seu único suspeito não legitimado."


   Como não poderia faltar, bora dar play no trailer (para assistir ao mesmo legendado, clique aqui):




   Espero que vocês tenham curtido conhecer um pouco sobre esta super produção cinematográfica!


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